Cabelo branco é idade e… saudade. Quando a proposta surgiu, olhando para trás, o que é que o meu espírito viu? Cabelo Branco é Saudade… entre tantos outros, perante os quais a escolha fácil não seria, com ótimas encenações e não inferiores dramatizações. Talvez pela minha idade, três principalmente me ocorreram, com senhoras no seu centro… Mas… porque cabelo branco é idade, saudade, é reviver o tempo, que foi passando muito ligeirinho, é recordar, tive de com a primeira ideia ficar.
Um ótimo espetáculo em que o fado era rei. Fado?! Fado?! Na altura pensei, hesitei. Era, porém, apelativa a apresentação. E porque não? Podia até ser uma reconciliação.
Fado, canção nacional, talvez por tal afastado da minha geração. Argentina Santos, Celeste Rodrigues, Alcindo…? Gostarei? Quem sabe, talvez sim, e foi assim…
Que bela encenação! Um pórtico no centro do palco se erguia, que em cortiça seria? Em cadeiras espalhadas ou de lado colocadas, os fadistas se sentavam e, por vezes, as suas vozes se juntavam. Que efeito sonoro e visual encantador. Que dor! Como choravam as guitarras… Luzes brilhavam sobre os guitarristas, tão jovens ainda, e sombras se projetavam num contraste de fantasia que sugeria… saudade… tristeza… alegria… amor… amizade, diversos sentimentos, diferentes emoções, que em nós desencadearam, em duas sessões, aqueles fados… “A Casa da Mariquinhas”, “Amor é Água Que Corre”, “Não Venhas Tarde”, “Ponto Final”. Não sei de quem era e o que dizia cada qual, mas numa casa se passava e cheia estava. Por ali muito amor corria? Sim e, em letras de fado, sempre presente estaria. Que não viessem tarde, assim acontecia com o pessoal que ali assistia. E, ponto final. Pois se de três a história da música já falaria, ali se me revelaria, ouviria aquele que é, ainda hoje, para mim a voz maior, do fado um senhor, voz tocante, com ciganos laivos, de árabes talvez, o gordinho, agora mais magrinho, o RR, Ricardo Ribeiro.
Curioso que homónimo era o produtor, o encenador, que o dito por Lisboa encontrou e aqui o revelou. Ricardo Pais, o diretor, que grande homenagem ao Fado, assim, prestou e que, com este e outros trabalhos, a um nível superior este teatro guindou.
E, por mais marcante ainda, quem o cartaz de apresentação desenhou, criou ou concebeu? Alguém que, comigo, laços de pertença tem… que de mim nasceu.
Tudo contribuiu, por tal, para fazer deste um espetáculo especial, sem igual…
E, se o meu não era então cabelo branco, assim foi ficando ao longo dos sequentes anos em que o Teatro São João sempre fui frequentando.
Tanto haveria que relatar, comentar, saudar… mas por aqui se tem de ficar.
Cabelo branco é saudade…
*Professora.
_
8-17 Julho 2005
Teatro Nacional São João