“O teatro deve puxar a cortina e revelar o que está por detrás. É essa a noção de apocalipse.”

No dia em que assinalamos o encerramento das celebrações do centenário do Teatro São João, damos início a Todos os que Falam, uma série de entrevistas sem pressa com quem conhece, pensa e faz teatro. E se aqui retomamos o título do espetáculo de 2006 de Nuno Carinhas, que integrava quatro peças breves de Samuel Beckett, é mais do que adequado que o primeiro convidado de Todos os que Falam seja o encenador Gábor Tompa, que este domingo estreia À Espera de Godot no palco do São João.

Tempos “estranhos, absurdos”. O atual presidente da União dos Teatros da Europa recorda como os anos 80 da Roménia de Ceaușescu definiram “a poesia do teatro” de toda uma geração de encenadores, antes da viragem democrática no país e da própria chegada de Tompa ao Teatro Húngaro de Cluj, instituição que ainda hoje dirige. “Se alguém dissesse ‘não há carne no talho’ numa comédia, as pessoas faziam uma ovação.” Na tradução portuguesa da “partitura musical” que leva à cena do São João neste 7 de março distingue “uma sonoridade muito especial”. Sublinha que as peças de Beckett não são sombrias, “simplesmente dizem que não há um caminho fácil, que temos de continuar a caminhar”, ecoando a resposta do poeta húngaro János Pilinszky, a quem um dia terão perguntado sobre as suas esperanças na vida: “Espero vir a conseguir morrer, porque, até ver, toda a gente conseguiu.”

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Disponível a partir de 7 março 2021 • dom 12:00