Em 1977, o escritor austríaco Thomas Bernhard escreveu a peça Minetti. Nela, um velho ator espera em vão pelo diretor de um teatro que lhe prometera o regresso ao papel da sua vida, o rei Lear de Shakespeare. Em Calvário, escrito e encenado por Rodrigo Francisco, um teatro público está a levantar a peça de Bernhard, mas paira a sombra de um grande desastre coletivo. O ator contratado para o papel principal foi uma escolha de recurso e as suas mitomania e insolência fazem dele uma espécie de duplo da personagem. O restante elenco está insatisfeito, o assistente de encenação indigna-se com certas tiradas do texto, o encenador desinteressa-se. Peça dentro da peça, este Minetti transforma-se assim num “calvário”, gíria teatral dos atores antigos para designar as falas de que se esqueciam nos ensaios, mas não só. Espetáculo sobre o teatro, Calvário reflete sobre o ofício e o sentido desta “arte traiçoeira”, como lhe chamava o Minetti de Bernhard.
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